Desconstruindo um mito.

8 de maio de 2017

A decadência do Ensino de Astronomia em nossas escolas e universidades.

Desde os primórdios até os dias contemporâneos, os homens fascinados pelo Universo, Astros e Estrelas, buscaram explicações para os fenômenos que os rodeavam. Até hoje novas descobertas são feitas, tornando assim a Astronomia uma Ciência dinâmica e de suma importância à formação humana. Em decorrência dessa importância, as escolas são instruídas a abordar o assunto. Como consta no PCN (Parâmetro Curricular Nacional, 1998).
O aluno ao ingressar no ensino fundamental traz consigo conceitos e informações que adquirem em textos, e vídeos tanto na internet quanto na TV. E estes textos podendo não ser cientificamente comprovadas. Exemplo da teoria da Terra Plana, a cada dia ganha mais adeptos. O aluno fazendo interpretações pouco fundamentadas e tomam como “verdade” aquilo que vê e ouve, formando assim conceitos errôneos a respeito de vários assuntos ligados a Astronomia, confundindo por vezes mitos e realidades.
Devido ao avanço científico-tecnológico, surgem à necessidade de enfatizar a questão astronômica com as conquistas tecnológicas contemporâneas, uma vez que as condições de vida do ser humano estão interligadas direta ou indiretamente a este conhecimento. 
Em virtude da importância da Astronomia enquanto disciplina escolar e falta de sua efetivação na prática. Destacamos a questão da pouca dominação do docente em relação ao conteúdo, como também em uma metodologia de ensino pouco adequada que dificultam o ensino/aprendizagem. Muitos carregam consigo crenças populares, tendo as como científicas, geralmente em razão de uma má formação escolar.
Os PCN’s (Parâmetros Curriculares Nacionais) recomendam fortemente o ensino de Astronomia, principalmente no ensino fundamental de 5ª à 8ª série, embora exista a lei, muitos docentes estão desatualizados a respeito do assunto, utilizando metodologias ineficazes, onde o conhecimento prévio do discente (aluno) nem sempre é respeitado, as aulas pouco criativas puramente expositivas do livro didático resultam em “decoreba” que podem ser esquecidas em pouco tempo, pois se tornam meros espectadores, não absorvendo aquilo que é ensinado.  
Boa parte dos professores que lecionam Astronomia possuem pouca ou nenhuma familiaridade com o assunto, devido à desvalorização da disciplina pelos departamentos responsáveis nas próprias Universidades. Como salienta Helio J. Rocha-Pinto (2010), geralmente quem leciona essa matéria no Ensino Fundamental são os professores de Geografia ou Ciências Biológicas, onde na grade curricular nem sempre estão presente a matéria Astronomia. Segundo Demerval Saviani “as universidades ignoram a realidade brasileira, não levando em conta a realidade das escolas do 1º e 2º graus”, ou seja, as Universidades não visam às necessidades das escolas, e as dificuldades que os professores encontraram na docência, havendo grande abismo entre o que é proposto e o que se efetiva na pratica. 
Langhi e Nardi (2005) entrevistaram professores que lecionam Astronomia, estes tinham dificuldade em separar os mitos populares como (Astrologia e Horóscopos), do conhecimento científico (Astronomia).
Outro ponto crucial que Langhi destaca é sobre as metodologias adotadas pelos professores entrevistados, apesar de utilizarem vários métodos, estas não obtinham bons resultados, Langhi sobrepõem a “faltam de ideias e sugestões para um ensino contextualizado da Astronomia”.
Os professores se baseiam nos livros didáticos para lecionarem astronomia, mas muitos destes livros apresentam erros conceituais, dificultando ainda mais o ensino/aprendizado, destacaremos alguns dos equívocos clássicos nos livros de Ciências. Por exemplo:
Em alguns materiais o Sol aparece sempre nascendo no ponto cardeal leste e se pondo no Oeste, na verdade esse fenômeno descrito acima só acontece dois dias no ano, não sendo elemento substancial a essa afirmativa. Como salientam Rosa & Roberto;
Durante o ano, o sol nasce em pontos diferentes do lado do nascente e se põe em pontos diferentes do poente, por isso, não podemos dizer que o sol nasce sempre no leste e se põe no oeste, dependendo da época do ano a diferença entre o nascente (ponto onde o sol nasceu) e o leste verdadeiro é grande, portanto, o sol nasce no lado leste de onde estamos e não no ponto cardeal leste, o mesmo acontece com o por, o sol se põe no lado oeste e não no ponto cardeal oeste. (ROSA, Roberto, 2004, p.27).
O Cruzeiro do Sul é ensinado para os alunos a localizar o ponto cardeal sul, mais só localizar a constelação (Cruzeiro do Sul) não significa que você achou o ponto cardeal sul, na verdade o sul se estende 4,5 vezes, a haste mais comprida da Cruz, seguindo uma linha reta (imaginaria) a partir da última estrela (estrela de Magalhães), depois traça uma linha vertical sentido a terra, nessa região que se encontra o ponto cardeal sul, outro ponto que não está bem clara nos livros, é em relação à visibilidade da constelação no céu, pois em certas épocas do ano o aluno não verá a constelação, por que estará muito próximo do horizonte ou abaixo dele, dependendo muito da localização que se encontra o aluno. Assim, a maneira indicada em tais livros didáticos capacita o aluno a se localizar, mais não o fará encontrar exatamente os pontos cardeais.
Os livros didáticos que traz a informação de que Saturno é o único planeta com um sistema de anéis, também se refere a um erro conceitual, pois apesar de não vermos a olho nu, outros planetas também possuem essa característica, é o caso de Júpiter, Urano e Netuno. Além dos anéis, os livros mais desatualizados trazem informações equivocadas sobre o número de Satélites Naturais que orbitam ao redor dos Planetas. Tais informações deixam de vir acompanhadas com observações de que aquele número é o conhecido até a data da publicação do livro, e que, devido a novas descobertas, esse número tende a aumentar, por exemplo, alguns livros didáticos ainda trazem a informação de que Júpiter possui 16 satélites naturais (luas) como destaca Langhi e Nardi (2004), mas sabe-se que ele possui 67 satélites naturais ao todo, quanto ao Sistema Solar completo, sabe-se (até o momento da revisão deste projeto) que os números de satélites naturais de cada planeta são: Terra: 1; Marte: 2; Júpiter: 67; Saturno: 62; Urano: 27; Netuno:14, por esses motivos acima o professor precisa estar sempre se atualizado.
Apresentamos acima apenas algumas das questões que mostram a seriedade do problema por nós analisado, melhor forma de se observar a disparidade entre o que é previsto e o que realmente é feito, se torna elemento base de nossa analise.
Preocupamos sempre com a atualização dos conteúdos, pois a cada dia novas descobertas surgem, e o que hoje é tido como verdade absoluta, amanhã pode não ser mais. Portanto, lutamos para que haja seriedade no ensino da Astronomia em nossas escolas e universidades.


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